Apresentação

Autores

  • Graciela Dibo PUC/PR
  • José Agustín Monrroy
  • Jhon Fredy Mayor Tamayo
  • José Ademar Kaefer

DOI:

https://doi.org/10.15603/ribla.v94i3.2999

Resumo

Graciela Dibo José Agustín Monrroy Jhon Fredy Mayor Tamayo Tradução: José Ademar Kaefer   Apresentação                                                                                           Este número da RIBLA é um estudo dedicado à Carta de Paulo à comunidade de Filipos. Seguindo o estilo e a tradição da revista, organizou-se esta edição a partir de três dimensões ou blocos temáticos que propõem novas leituras da Carta. Embora não tenha sido a estrutura original que foi fixada quando o número foi organizado e os colegas autores convidados, à medida que os artigos foram chegando, encontramos tópicos comuns que nos levaram a fazer a presente organização. O estudo apresenta uma introdução à retórica da Carta e três eixos temáticos: dimensão política, espiritualidade holística e relações comunitárias e liderança. O conjunto contempla, num primeiro momento, a apresentação retórica da epístola, e em seguida o desenvolvimento das três dimensões indicadas acima. O objetivo é destacar o significado subversivo da Carta a partir da situação prisional que Paulo vive e dos conflitos internos e externos efrentados pela comunidade destinatária. O propósito é construir as diretrizes de uma comunidade cristã fundamentada na fraternidade, na comunhão, na alegria, na esperança e na solidariedade. Tudo com a finalidade de chegar a ser, em primeiro lugar, comunidades que resistem à imposição da ideologia imperial e, em segundo lugar, um exemplo de vida integral e de cidadãos honestos para o resto da sociedade. Tudo isso, graças à experiência de fé em Cristo, que transformou a vida de Paulo e a dos cristãos de Filipos. A dimensão política da Carta é abordada por quatro textos que partilham conosco Néstor Míguez, Elsa Támez, César Moya e Jhon Fredy Mayor. Num primeiro momento é mostrada a relação histórica entre política e religião, onde surge a necessidade de se identificar a linguagem e o simbolismo dos discursos políticos das estruturas de poder, bem como de textos cristãos, neste caso o texto dirigido aos filipenses. Esta abordagem tem maior sentido ainda, quando sabemos que a epístola de Paulo a esta comunidade foi escrita da prisão, lugar e situação à qual o apóstolo chegou por razões estritamente políticas (e não religiosas). Isso mostra a práxis política de Paulo e da comunidade, que é vigiada pelas autoridades do império. A Carta não só tem uma finalidade proselitista, mas também uma denúncia. É por isso que é possível ler nas entrelinhas em várias passagens alusões a termos e palavras típicas da linguagem da política imperial, as quais Paulo contrapõe e reinterpreta para dar-lhes um novo significado a partir da prisão. Isso indica que o apóstolo sabe muito bem o motivo de sua prisão e o que pode acontecer com ele. É por isso que ele não poupa na escrita, como Néstor Míguez apontará em seu texto, que a Carta é um "tratado político-religioso inspirado no Evangelho do Ressuscitado". Portanto, é necessário ler as entrelinhas como se fossem quase uma "mensagem secreta", como afirma César Moya, ao destacar certos termos usados por Paulo na epístola, como:  polyteúomai (1,27), polyteuma (3,20), kúrios (3,20), soter (3,20). Nestas e noutras palavras da linguagem da política romana, há denúncia, renúncia e reivindicação por uma vida em sociedade. A dimensão holística da espiritualidade da Carta é desenvolvida por Juliana Triana, Graciela Dibo, Moisés Pérez e Mercedes López. A partir dessa particularidade da epístola é possível identificar, em primeiro lugar, a crise que Paulo e a comunidade estão atravessando. E em segundo, encontrar as possibilidades de superar esta crise na medida em que cada um se coloca no lugar do outro, para chegar a entender que a crise é algo que pode ser superado juntos, na fraternidade, não individualmente, porque quem sofre precisa de uma rede de apoio para se sentir forte. Este aspecto nos convida a pensar a Carta aos Filipenses como uma guia que pode ser de grande utilidade para comunidades e líderes que estejam passando por situações difíceis. A crise é entendida aqui como oportunidade e possibilidade. Oportunidade para tornar efetiva a solidariedade com aqueles que mais sofrem; e possibilidade para chegar, através da doação, à fraternidade e à comunhão (ter tudo em comum implica também o sofrimento do outro). O segundo aspecto que os autores resgatam dessa dimensão são os sentimentos e as forças que emergem em meio à situação enfrentada por Paulo e pela comunidade de Filipos, e que Graciela Dibo se propõe a refletir como uma experiência do espírito. Essa experiência permite que sentimentos como alegria, amor e ternura apareçam ao longo do texto. A prisão e a possibilidade de morte que causam sofrimento em Paulo também são a oportunidade para o espírito se fazer forte para lidar com a situação e, ao mesmo tempo, possibilitar que os sentimentos aflorem e motivem tanto o apóstolo quanto a comunidade a seguir em frente. A força espiritual de Paulo é um exemplo que é possível celebrar em meio às crises, demonstrando assim que há esperança na solidariedade da vida comunitária, como ressalta Moisés Pérez. Precisamente esse foi o propósito das ekklesias que Paulo fundou, inspirado na Boa Nova, onde a presença do ressuscitado é um sinal de esperança e alegria em meio à crise, como aponta Mercedes Lopes. Não há dúvida de que este chamado a uma vida no espírito em tempos de crise será sempre o melhor sinal de esperança que nós, como pessoas de fé, podemos transmitir a uma sociedade que vê com preocupação (e muitas vezes à margem) as situações críticas que o planeta e a humanidade em geral atravessam. Aspirações por guerra entre as potências, crise climática, recessão econômica em escala quase global, migrações permanentes que transformaram o Mediterrâneo ou o Tapón del Darién (Darién Gap), em Colômbia-Panamá, em cemitérios onde muitos irmãos e irmãs perdem a vida tentando buscar possibilidades de uma vida digna. São situações que devem nos encorajar, mesmo em meio ao nosso próprio sofrimento, a formar comunidades no sentir/pensar, a exemplo de Cristo. Ou seja, na solidariedade, na comunhão, na alegria e na esperança. Desta forma, poderemos consolidar redes de apoio para acompanhar aqueles que sofrem e precisam sentir o apoio de sua comunidade, como Paulo experimentou quando estava na prisão. Sem dúvida, o fato de as nossas comunidades cristãs serem sinal de esperança e de alegria será uma experiência do espírito que nos foi dado em Cristo. A dimensão relacional nesta seção é dada pela compreensão da comunidade como um corpo. Em um ambiente comunitário onde é possível sentir (fronéo) a necessidade do outro a ponto de experimentar a dor que ele ou ela experimenta. O que acontece é a materialização da comunhão (koinonia) a um nível em que tanto a dor quanto a alegria dos irmãos e irmãs são sentidas e partilhadas. Esta comunhão se expressa em solidariedade com todos e todas. Em uma comunidade onde a comunhão é possível, tudo muda, desde as formas de lidar com a dor ou a crise, até as relações e comportamentos que as classes ou grupos definiram para homens e mulheres. Portanto, outro tema que salta aos olhos na carta são as relações, que são completamente novas e transgressoras. Eles dão conta do que a fé em Cristo fez nesses irmãos e irmãs derrubar barreiras étnicas, culturais, religiosas, econômicas e até de gênero, tornando possível a comunhão entre pessoas de fé, independentemente de sua origem ou sexo. É por isso que expressões de carinho e afeto afloram na fala entre homens que se entendem como irmãos (Paulo a Epafrodito, Paulo a Timóteo); também expressões de fraqueza e lágrimas por parte de homens que se expressam sem medo em uma sociedade patriarcal. Tudo isso evidencia uma nova compreensão da masculinidade, do relacional em uma cultura greco-romana que não apenas impôs um modelo político, mas também um modo de viver e ser. Esperamos que este novo número da RIBLA ajude nossas leituras comunitárias da Bíblia com base na proposta que este grupo de autores fez da carta aos Filipenses nessas três chaves. Certamente o tempo que vivemos em nosso continente e no mundo em geral é a oportunidade de poder ler a epístola e reivindicar as lutas das comunidades de fé por uma participação política efetiva que reivindica igualdade entre todos os filhos de Deus. A necessidade de compreender o ser humano como um ser holístico que precisa se sentir parte de um coletivo, de um grupo, de uma comunidade, para não se sentir sozinho na luta pela sobrevivência em um mundo cada vez mais urbano voltado para a produção. E, finalmente, para que as relações entre todos nós sejam cada vez mais humanas, mais fraternas, mais solidárias, até que nos sintamos parte do outro em espírito de alteridade para cuidar uns dos outros. Portanto, colocamos nas mãos de tantos e tantas a leitura de uma carta que certamente nos encorajará na busca e construção de um mundo e de uma sociedade melhores, nos quais seja possível experimentar a alegria e o valor da amizade entre nós, graças à fé em Cristo, que nos chamou a ser irmãos e irmãs, independentemente das diferenças ou preconceitos da sociedade, da política ou da religião. Na parte final da edição você encontrará alguns recursos visuais que o ajudarão a aprender um pouco mais sobre a antiga cidade de Filipos. Agradecemos a José Ademar Kaefer pelo valioso trabalho arqueológico que está realizando com sua equipe de pesquisadores nas cidades que Paulo percorreu e nas quais fundou comunidades cristãs. Sua contribuição é altamente significativa para o estudo dos textos bíblicos.  

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Publicado

2024-11-12