Intrigas e questões domésticas em Atos de André
Abstract
A obra Atos de André, produzida provavelmente no século II EC, apresenta uma série de eventos e situações domésticas que supostamente ocorreram durante o ministério do apóstolo André na cidade de Patras. O presente artigo analisa de que forma esse livro nos revela aspectos importantes da cultura popular da Roma antiga, especialmente da época de sua produção. Observa-se como o grupo subalterno responsável pela obra de nuances encratitas busca redefinir e inverter certos conceitos estabelecidos pela elite da sociedade romana. Um desses conceitos se relaciona com a ideia de família, vista em Atos de André não como uma relação marcada por laços de sangue, mas por pessoas que fazem parte do mesmo grupo religioso identificado com um líder específico, neste caso o suposto apóstolo André. A natureza do casamento também é redefinida, não mais como algo bom, exaltado por filósofos e líderes políticos de Roma, mas como uma relação maligna que mancha a dignidade do indivíduo. As relações entre senhores e escravos variavam, desde um profundo afeto entre ambos até ações caprichosas e violentas de senhores contra seus servos, que poderiam culminar na morte destes. Por fim, a obra revela um enredo bem construído com jogos de palavras e diversos temas e alusões bíblicos.The work Acts of Andrew, probably produced in the second century EC, presents a series of events and domestic situations that supposedly occurred during the ministry of the apostle Andrew in the city of Patras. This article analyzes how this book reveals important aspects of popular culture in ancient Rome, especially at the time of its production. It is observed how the subaltern group responsible for the work with encratites nuances seeks to redefine and reverse certain concepts established by the Roman elite. One of these concepts relates to the idea of family, seen in the Acts of Andrew not as a relationship marked by blood ties, but by people who are part of the same religious group identified with a specific leader, in this case the alleged apostle Andrew. The nature of marriage is also redefined, no longer as something good, exalted by philosophers and political leaders of Rome, but as an evil relation that blemish the dignity of the individual. Relations between masters and slaves varied from a deep affection between the two to arbitrary and violent actions of masters against their servants, which could culminate in their death. Finally, the work reveals a well-constructed storyline with puns and various biblical themes and allusions.References
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