TEMBETÁ: AGENTE HISTÓRICO NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE GUARANI

Resumo

No universo espiritual dos Nhãdewa, divisão guarani, o discurso religioso norteia, ao longo do tempo, a constituição da identidade desse grupo, assim como a noção de alteridade, a partir do cumprimento de normas estabelecidas por Nhãderu e passadas à coletividade por lideranças desse povo. Tais normas direcionam as relações desses indígenas com os demais seres e com com tudo que existe. Nesse contexto, os guaranis se expressam com palavras, pinturas, danças, cantos, rezas e, sobretudo, com o corpo, afirmando-se por meio dele, fazendo do mesmo um fator de exposição de sua identidade. Dentre os elementos empregados nesse processo de representatividade destacamos o tembetá, adorno labial que os jovens guarani passam a utilizar a partir do ritual de iniciação de sua vida adulta. Porém, mais que um enfeite, seu uso indica a adoção de um tipo de conduta. Logo, forma o indivíduo Nhãdewa na mesma medida em que o socializa. Ao perfurar o lábio, os jovens se submetem a uma estrutura/discurso milenar, a uma organização social estipulada pelo próprio Nhãderu, cujos preceitos estão escritos no corpo e com o corpo guarani. O tembetá serve como símbolo identificador de que seu portador é guarani e destaca-se como elemento básico na cultura deste povo uma vez que fundamenta uma questão que lhes é essencial: Não ser propenso, de forma alguma, a manifestar sentimentos que possam, de alguma maneira, lhes comprometer no objetivo maior da existência: Alcançar Ywy marã ë’y, a Terra sem Males.